É difícil entender os caminhos de Deus! Ao recordar momentos da nossa vida, todos nós com certeza temos experiências deste tipo: é difícil perceber a presença de Deus em momentos de escuridão e sofrimento. Creio que esta mesma reflexão me leva a pensar na experiência da primeira fundação das nossas Irmãs na Austrália.
Em Maio de 1944, dezoito irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo pisaram solo australiano, vindas da Papua Nova Guiné a bordo de um navio de guerra das forças americanas. Todas elas eram refugiadas da Segunda Guerra Mundial, durante a qual outras 54 irmãs da mesma missão perderam a vida. A Austrália era para ser uma residência temporária, até que fosse possível o regresso à missão da Papua Nova Guiné. No entanto, os planos de Deus eram outros e o bispo de Brisbane insistiu que as irmãs permanecessem na diocese. Assim foram os inícios da nossa missão na Austrália. de refugiadas, as irmãs foram chamadas a ser missionárias neste país imenso.
Os anos passaram, com as irmãs dedicando-se principalmente à pastoral da saúde, à pastoral dos idosos, e ao ensino em escolas paroquiais. Além disso, várias irmãs trabalharam na promoção humana de comunidades aborígenes, e no atendimento a refugiados e imigrantes.
Hoje temos sete comunidades na Austrália e somos cerca de 35 irmãs. O trabalho de apoio a imigrantes e refugiados tem hoje um lugar central na nossa acção missionária na Austrália, embora algumas irmãs continuem a dedicar-se à pastoral da saúde e à pastoral dos idosos e aborígenes. A razão desta opção pelos imigrantes e refugiados deve-se á situação dramática na qual muitos deles se encontram. Talvez o exemplo mais dramático neste momento seja a chegada contínua de refugiados do Sudão. A maior parte deles viveram durante anos em campos de refugiados em África e chegam aqui marcados pelo trauma da guerra e da perseguição.
No meio de toda esta realidade, qual é a minha missão como Serva do Espírito Santo? Bom, durante os últimos quatro anos dediquei a maior parte do meu tempo e esforço ao estudo da Psicologia. Agora estou no último ano e, por isso, tenho a possibilidade de iniciar já o trabalho dentro da minha área profissional. Esta é uma área que me fascina, pois dá-me a oportunidade de entrar na realidade mais profunda de seres humanos e desde aí tentar ajudá-los a descobrir as sementes de esperança que já existem dentro deles. Neste momento estou a trabalhar um dia por semana no que aqui se chama “Linha da Vida”, uma linha telefónica de apoio psicológico a pessoas em momentos de crise. Além deste trabalho, estou a começar um outro trabalho em psicoterapia e aconselhamento.
Ao pensar na realidade australiana, talvez muitos possam pensar que ao ser uma nação com um nível de vida bastante alto, as pessoas não necessitem tanto de ajuda emocional e psicológica. Eu mesma me surpreendo ao perceber que os problemas são semelhantes aos que encontramos noutras realidades, embora talvez as causas possam ser outras. Problemas de solidão, depressão, suicídio, auto-mutilação e vazio interior creio que são comuns na maior parte das sociedades, mas talvez mais ainda em sociedades que dão a primazia ao individualismo, ao bem-estar pessoal, à aparência física e ao materialismo. Ao constatar esta realidade sinto quanta compreensão e escuta são necessárias na nossa sociedade ocidental! Talvez seja por isso que eu vibro ao pensar na minha missão dentro desta área profissional. Sinto que como missionária e como psicóloga, sou chamada a ser presença de um Deus que é compaixão, compreensão e escuta, nesta sociedade australiana, onde muitos vivem a solidão e o vazio, no meio da abundância material.